Por Roger e Peggy
Dudley
Ele: Onde está a minha
camisa azul?
Ela: Não tive tempo de
passá-la. Foi um dia muito atarefado.
Ele: O que quer dizer
com não ter tido tempo? Você esteve em casa o dia todo!
Ela: Olhe, Buster,
estive muito atarefada. Tive serviço suficiente para me manter
ocupada.
Ele: Fazendo o quê?
Estive fora o dia todo trabalhando para colocar o pão na mesa, ao
passo que você fica em casa assistindo novelas.
Ela: Você está louco!
Não faz a menor idéia do que seja trabalhar em casa: cozinhar,
limpar, lavar, passar, cuidar das crianças!
Ele: Isso é conversa
fiada! Você tem a vida mais fácil do que qualquer pessoa que
conheço. Você precisa descobrir o que é realmente trabalho.
Ela: Ó, e você
conhece, suponho. Você se assenta em seu belo escritório o dia
todo, apenas para levar seus clientes a almoços e jogar golfe com o
chefe. Depois vem para casa à noite, exige comida na mesa e quer
assistir a TV enquanto arrumo a cozinha. Você é impossível!
Um dos problemas
principais no relacionamento é a falta de comunicação.
Comunicar-se significa expressar pensamentos e sentimentos de modo
que o receptor compreenda o que você diz. Pois bem, segundo essa
definição o casal acima está certamente se comunicando, mas não
de modo a melhorar seu relacionamento. Como podemos comunicar-nos de
maneira a promover relacionamentos significativos? Como conversar com
quem amamos?
Na busca de respostas,
muitas de nossas ilustrações são extraídas do casamento —
talvez a área mais crucial do relacionamento. Contudo, as dicas que
vamos discutir são boas para qualquer relacionamento no qual duas
pessoas se querem bem. Podemos aplicá-las a pais e filhos, cônjuges,
namorados, noivos, companheiros de quarto, colegas de trabalho,
membros da mesma igreja e amigos íntimos. Todo o mundo tem alguém
de quem gosta. Assim todos precisam saber como falar de modo a
melhorar o relacionamento. Eis 10 dicas sobre como conversar com quem
você ama.1
1. Esteja atento aos
pensamentos e sentimentos
Sabeis isto, meus
amados irmãos; todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para
falar, tardio para se irar. (Tiago 1:19.) Se quisermos produzir
relacionamentos carinhosos, precisamos tornar-nos bons ouvintes antes
mesmo de pensar em como falar. A comunicação afetuosa envolve
compreensão entre duas mentes e dois corações. Precisamos saber o
que a outra pessoa está pensando ou sentindo, a fim de responder de
um jeito que promova o bom relacionamento.
Ouvir é uma arte que
não herdamos naturalmente; ela precisa ser cultivada. Primeiramente,
não interrompa a outra pessoa até que ela acabe de falar. Quando
estamos ouvindo, somos tentados a pensar em respostas e contestações.
Por isso achamos que podemos interromper para defender nosso ponto de
vista. Essa atitude transmite a mensagem: “Preocupo-me mais com o
que estou pensando do que com o que você está dizendo”.
Em segundo lugar,
preste toda a atenção ao que o ser amado está dizendo. Isso é
mais complexo do que parece, porque é muito fácil distrair-se e
deixar a mente vagar sobre outras coisas. Ruth Graham, a esposa do
famoso evangelista Billy Graham, ilustra esse ponto com uma
experiência particular:
Meu marido está
freqüentemente preocupado. Ele tem muito com que se preocupar. Certa
vez, estávamos esperando visitas para o jantar, e eu perguntei o que
ele gostaria de ter no cardápio.
"Hum, hum",
ele resmungou. Eu sabia que ele estava ali em corpo, mas mentalmente
ausente, e decidi divertir- me um pouco.
“Pensei que
poderíamos começar com uma sopa de girinos", sugeri.
“Hum, hum".
“E teremos aquela
bela erva venenosa que cresce na gruta como deliciosa salada.".
“Hum, hum".
“Como prato
principal, eu poderia tentar assar algumas ratazanas que temos visto
ultimamente rondando o defumadouro, e servi-las com capimsanguinário
fervido e alpiste assado.
“‘Hum,hum’.
“E de sobremesa,
poderíamos ter um suflê de lama e …", minha voz foi diminuindo à
medida que seus olhos começaram a me focalizar.
“O que você disse
sobre as ratazanas?", perguntou ele.
Ouvir com atenção é
muito cansativo, mas reserve algum tempo para se concentrar nas
mensagens de seu cônjuge.
Em terceiro lugar,
aceite os pensamentos e sentimentos do ente querido como genuínos e
não tente contestá- los ou desviar o assunto. Afirmações como:
“Você não deveria se sentir desse modo”, ou “Nunca diga
isso”, ou ainda, “Essa é a coisa mais ridícula que ouvi”,
rompem a conversação e o relacionamento. Por exemplo, Bobby toma um
sorvo de sopa no jantar e se queixa: “Isto tem um gosto horrível!”
A mãe será tentada a dizer: “Não, não tem gosto horrível; está
deliciosa!” Mas gosto é uma questão pessoal. Se ele não gosta da
sopa, nenhuma evidência objetiva o convencerá. Bobby ouve da mãe:
“Não estou interessada em sua opinião”.
Naturalmente, isso não
significa que devemos concordar com tudo o que ouvimos. Afinal, temos
nossos próprios gostos. Mas podemos aceitar os julgamentos e
sentimentos de outrem como representativos de seus pensamentos e
emoções. A mãe seria mais sábia se dissesse: “Sinto que você
não goste da sopa. Pessoalmente eu a aprecio, mas você
provavelmente poderá achar outros pratos dos quais gostará mais”.
Por fim, procure
aperceber-se do significado da mensagem que está recebendo. Como as
palavras significam coisas diferentes para diferentes pessoas, é
fácil haver confusão de significados ao elas passarem de uma pessoa
para outra. Podemos testar nossa compreensão parafraseando. “Você
está frustrado e zangado porque o chefe o culpou injustamente pelo
erro”. “Você receia que isso ameace nosso relacionamento se der
a idéia de que estou dedicando muita atenção à Sue”. Então a
pessoa que fala tem a oportunidade de confirmar se o interlocutor
recebeu a mensagem desejada ou corrigir qualquer mal-entendido.
2. Seja tardio em
falar.
Pense cuidadosamente
sobre o assunto. Fale de modo que a pessoa possa entender o que você
diz.
Ouvir atentamente
ajudará na formulação da melhor resposta. Contribuirá para
prevenir a tendência de dizer o que vem à mente sem reflexão sobre
o assunto.
Uma maneira segura de
conseguir o apoio do ouvinte é assumir a responsabilidade pelos
sentimentos expressos. Isso pode ser conseguido pelo uso de mensagens
com ênfase no “eu”, como:
(1) A feitura de uma
descrição sem nuances condenatórias acerca do que foi dito ou
feito, e que está causando o problema;
(2) a partilha dos
sentimentos que você está vivenciando no momento;
(3) explicando porque
esta conduta lhe causa um problema.
Por exemplo, se estou
me sentindo frustrado porque alguém está atrazado em honrar um
compromisso, eu poderia responder de dois modos diferentes. Poderia
dizer: “Você me deixou tão nervoso por chegar tarde outra vez.
Porque não é você mais considerado de outros?” Ou eu poderia
dizer: “Estou frustrado porque realmente me aborrece estar atrazado
para um encontro e sinto que causei incoveniência à pessoa que
deveriamos ver. Pode me ajudar a fazer um ajuste?”
Realmente, ninguém
pode nos fazer experimentar raiva ou qualquer outra emoção. Somos
responsáveis pelas emoções que temos.
3. Não transforme
pontos secundários em pontos importantes.
Ninguém é perfeito. A
pessoa amada provavelmente tem hábitos que você acha desagradáveis.
Algumas pessoas tendem a dimensioná-los para caracterizar todo o
relacionamento, usando descuidadamente palavras como sempre e nunca.
“Você está sempre atrasado”. “Você nunca me trata com
respeito”. Essas são expressões extremadas e que não expressam a
verdade.
Edith Shaeffer disse
certa vez: “Se você exige perfeição ou nada, conseguirá nada”.
Relacionamentos importantes precisam ser baseados em comunicação
honesta. Portanto, não devemos exagerar as faltas dos outros, mas
sempre dizer a verdade. Notem, porém: A verdade deve ser dita com
amor. O amor….não se irrita, não suspeita mal. (I Coríntios
13:5.) Ser totalmente honesto e ainda completamente bondoso é o
segredo da verdadeira comunicação.
4. Não frustre o ser
amado com o tratamento do silêncio
Uma pessoa pode optar
pelo silêncio por diferentes razões. Alguém pode querer punir a
outrem, esperando que o problema desapareça se for ignorado. Pode
achar que o silêncio vale ouro, porque com o tempo o problema se
resolve por si mesmo, ou sentir que ficar calado fará alguma
diferença. Nenhuma das razões acima funciona — simplesmente
erguem muros e barram a comunicação.
É importante explicar
por que você hesita em falar no momento e usar as três sugestões
sobre o uso de mensagens com ênfase no “eu”, conforme a dica 2.
Isso pode resultar na melhora de compreensão e resolver as questões
de modo a prevenir seu ressurgimento.
5. Aprenda a discordar
sem brigar.
Toda a amargura, e
cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmia sejam tiradas dentre vós,
bem como toda a malícia. (Efésios 4:31.) Duas pessoas nem sempre
concordam em tudo. Mas quando você discorda da pessoa a quem ama, é
possível fazê-lo de maneira calma e respeitosa, concentrando-se
sobre o problema e evitando ataques.
O amor não é um
sentimento tépido e indistinto, embora certos sentimentos possam
resultar do amor. O amor é a decisão de se preocupar com a outra
pessoa e promover seu bem-estar. Há quase um século, o notável
psiquiatra, Harry Stack Sullivan, definiu assim o amor: “Quando a
satisfação ou a segurança de outra pessoa se torna significativa
tanto quanto a nossa própria, então existe um estado de amor”.
Nem sempre sentimos amor, mas podemos tomar a decisão de agir de
modo afetuoso.
No livro No Longer
Strangers, Bruce Larson refere a conversa que teve com um amigo:
“Naquela manhã, quando perguntei a meu amigo como estava se
sentindo, ele me respondeu: Terrível! Tive uma briga com minha
esposa ontem à noite e fomos para a cama sem falarmos um com o
outro… Mas esta manhã ela me deu um beijo e disse: ‘Querido, eu
o amo.’”
“O que você disse?”,
perguntei ansiosamente.
“Eu disse: ‘Bem, eu
não a amo, não amo a mim mesmo e não amo a Deus. Não posso me
lembrar de ninguém que eu ame. Mas vou lhe dizer isto: Vou orar esta
manhã e creio que num futuro próximo, Deus me endireitará porque
Ele me ama. Ele me habilitará a amar de novo. E quando o fizer,
prometo que você será a primeira na lista!’”
Note que, a despeito
das palavras negativas, esse homem realmente amava a sua esposa. Com
efeito, ele estava dizendo que a queria bem, embora não sentisse
amor. Às vezes não sentimos vontade de amar. Às vezes nosso
relacionamento parece frio. Às vezes temos raiva um do outro. É
então que o verdadeiro amor se ergue acima do nível emocional e
demonstra ao outro que o amamos.
6. Não responda quando
estiver zangado.
A resposta branda
desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira. (Provérbios
15:1.) Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa
ira. (Efésios 4:26.)
Edgar N. Jackson, no
livro The Many Faces of Grief, apresenta estes quatro “As” para
lidar com a ira. Fizemos uma adaptação para conformá-los a este
modelo:
1. Admita-o (isto é
algo freqüentemente difícil de fazer). Precisamos assumir a
responsabilidade por nossas emoções.
2. Analise-o
objetivamente. Pergunte- se por que está tão contrariado. Por que
essa explosão emocional? Ela faz sentido?
3. Aja de maneira
inteligente e saudável, andando, rachando lenha, jogando golfe,
arrumando o armário ou adiando seus sentimentos, de modo que seu
nível de adrenalina seja reduzido ao normal.
4. Abandone-a depois de
reconhecer que a ira não compensa seu custo em estresse e relações
prejudicadas. Não podemos mudar o que já aconteceu, mas podemos
escolher como reagir a isso.
7. Confesse e peça
perdão.
Quando duas pessoas
estão intimamente ligadas, inevitavelmente já se ofenderam muitas
vezes. Quando você sabe que está errado, admita-o e peça perdão.
Mesmo que julgue não ser o culpado, expresse tristeza por seu
relacionamento ter sido prejudicado e ofereça- se para fazer o que
for para reparar o dano. Confessai vossas culpas uns aos outros, e
orai uns pelos outros, para que sareis. (Tiago 5:16.) É isso que
as pessoas que se querem bem precisam fazer para manter forte e terno
o relacionamento.
E quando alguém que
você ama faz-lhe confissão e pede perdão, perdoe-o de coração.
Não espere até se sentir disposto. Toda vez que perdoar alguém,
esqueça a ofensa e não volte à carga. Recapitular ofensas passadas
impede que o relacionamento cresça.
8. Não censure.
Melhor é morar num
canto do eirado, do que com a mulher rixosa numa casa ampla.
(Provérbios 25:24.) Se você já fez críticas alguma vez,
provavelmente descobriu que a outra pessoa se torna mais defensiva em
relação a elas. As pessoas não mudam porque alguém quer que elas
mudem. Elas o fazem quando possuem motivação interior. Cecil
Osborne acha que “não podemos modificar outras pessoas nem por
ação direta e franca, nem mediante manipulação”. “Na
relação de casados, em vez de esperar que nossas necessidades sejam
satisfeitas, precisamos procurar satisfazer as necessidades do
cônjuge”.
Se houver necessidade
de mudança, uma das opções é sentar-se com a outra pessoa e de
modo afetuoso (usando os três passos da dica 2 sobre como usar
mensagens enfatizando o “eu”) pedir ajuda e sugestões sobre como
conseguir a mudança de atitude. Se for uma situação familiar, o
tempo da reunião em família é o momento ideal para esse tipo de
discussão.
9. Procure o lado
positivo.
Talvez certos
comportamentos da pessoa amada ou seus traços de caráter o irritem.
A tendência natural é criticála. É fácil culpar o outro por
situações insatisfatórias. Mas isso simplesmente não funciona.
Tendemos a pensar que se apontarmos as faltas do outro, ele ficará
agradecido pela ajuda e procurará se reformar. Com efeito, a pessoa
sempre buscará se defender. Uma relação nunca é favorecida pela
imputação de culpa ao companheiro.
Ao contrário, as
pessoas crescem quando são elogiadas por aquilo que estão fazendo
direito. Descubra os pontos de caráter mais fortes no ente querido e
enfatize-os. Os relacionamentos crescem quando dizemos a nossos
cônjuges, filhos ou a quem quer que seja, que os amamos e que eles
são valiosos para nós. Quando eles reconhecem que são importantes,
portam-se de maneira importante.
Ellen White comenta
como Jesus buscava o lado positivo das pessoas. “Em cada ser humano
Ele divisa infinitas possibilidades. Via os homens como poderiam ser,
transfigurados por Sua graça… Olhando para eles com esperança,
inspirava-lhes confiança. Encontrando-os com confiança,
inspirava-lhes confiança… Em Sua presença as almas desprezadas e
caídas compreendiam que ainda eram homens, e anelavam mostrar-se
dignos de Seu olhar. Em muitos corações que pareciam mortos para as
coisas santas, despertavam-se novos impulsos. A muito desesperançado
abriu-se a possibilidade de uma nova vida”.6
10. Reconheça que a
pessoa amada tem o direito de ser diferente de você.
Deus aprecia a
diversidade. Nós a vemos em toda a criação. Não há duas pessoas
ou flocos de neve que sejam iguais. Não é preciso que os outros
sejam como nós, embora sejamos um (como marido e mulher ou como
família), contudo, cada um de nós é único e distinto. Se
apreciarmos essas diferenças, poderemos ampliar nossa experiência e
aprender como crescer. Onde a diversidade é respeitada e a
singularidade afirmada, o amor floresce.
Recapitule essas dez
dicas e assinale uma ou mais nas quais você gostaria de melhorar.
Com o auxílio de Deus, faça um esforço decidido para desenvolver
maneiras novas e mais perfeitas de se comunicar com as pessoas que
lhe são importantes. Os psicólogos dizem que leva trinta dias para
criar um novo hábito. Imagine só — dentro de um mês novos
hábitos podem ser estabelecidos e os antigos morrerão por falta de
uso.
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Roger L. Dudley (Ed.D.
pela Andrews University), é professor emérito de Ministério de
Igreja no Seminário Teológico da Andrews University, e Margaret
[Peggy] Dudley (Ph.D.) é conselheira profissional licenciada. Estão
casados há 50 anos.
Notas e referências
1. As 10 dicas dadas
neste artigo foram adaptadas do livro Communication:The Key to Your
Marriage, de H. Norman Wright (Glendale, Calif.: Regal, 1974), pp.
188, 189, mas o material, em sua maior parte, é nosso.
2. Ruth Graham, It’s
My Turn (Old Tappan, N.J.: Fleming H. Revell, 1982), p. 67.
3. Bruce Larson, No
Longer Strangers (Dallas; Word Books, 1971), p. 67.
4. Cecil Osborne,
Understanding Your Mate (Grand Rapids, Mich.: Zondervan, 1970), p.
109.
5. Idem, p. 141.
6. Ellen G. White,
Educação (Santo André, S. Paulo: Casa Publicadora Brasileira,
terceira edição), p. 80.