quarta-feira, 2 de março de 2011

Restauração da Verdade

Depois de um bom tempo ausente, começo aqui uma série de postagens contendo comentários sobre alguns pontos que considero mais relevantes na leitura que estou refazendo dos capítulos finais do livro O Grande Conflito, da escritora cristã Ellen G. White.

Hoje, comento o capítulo 26, Campeões da Verdade. Com certeza, este é um dos meus capítulos favoritos, pois, como seu próprio titulo alude, fala a respeito da verdade. Não de meias-verdades, mas da VERDADE. E sempre que se fala sobre essa palavra tão poderosa e importante, não consigo deixar de pensar no oposto dela: a MENTIRA. E esta última, na maioria esmagadora das vezes, apresenta-se disfarçada.

Claro! É óbvio! Nenhuma mentira é criada para ser rotulada como mentira, mas, sim, para ser aceita como uma verdade. E, se for bem elaborada, essa falsa verdade pode ser aceita e difundida por muitos indivíduos, até mesmo, gerações de indivíduos, o que a tornaria num paradigma, isto é, um modelo sobre o qual a sociedade se basearia para construir outras supostas verdades. Então, teríamos aí uma cadeia de mentiras, transformando o mundo. É por isso que a mentira é tão perigosa e tão condenada por Deus em Sua Palavra. Prova disso é que, no único trecho da Bíblia escrito pelo dedo de Deus, os Dez Mandamentos, há um mandamento específico para a proibição da mentira: o nono, que se encontra em Êxodo 20:16; por isso também, este blog se dedica a destruir os paradigmas baseados em mentiras.

Meu objetivo hoje não é esgotar o assunto acerca da mentira, mas me especializarei em falar, de forma bem prática e dentro do cotidiano, sobre a mentira que existe no seio da Igreja. Isso mesmo, no meio do professo povo de Deus.

Em O Grande Conflito, capítulo 26, quarto parágrafo:

"É dada a ordem: 'Clama a plenos pulmões, não te detenhas, ergue a tua voz como a trombeta, e anuncia a Meu povo a sua transgressão, e a casa de Jacó os seus pecados'."

Esse é um texto bíblico que me impressiona bastante, cada parte, pois é forte. É imperativo, enfático e insistente, basta ler com atenção. O que me impressiona mais é o fato de ser uma ordem a ser cumprida "contra" a casa de Jacó. E podemos inferir que justamente por isso o texto é tão forte, pois ao longo de toda a Bíblia, vemos Deus executando Seus juízos primeiramente pelo Seu povo, e de forma mais exigente, pois, em tese, são mais conhecedores da verdade.

"Aqueles que o Senhor designa como 'Meu povo' devem ser reprovados por sua transgressão - e esta é uma classe que imagina estar fazendo corretamente o serviço de Deus. Mas a repreensão solene dAquele que perscruta os corações, prova que eles se acham a calcar a pés os preceitos divinos."

Mais um motivo para a severidade da ordem a ser cumprida: trata-se de uma classe de pessoas que carrega um Nome, que é acima de todo nome, investida de autoridade e que, por isso, não abaixa a cabeça tão fácil diante de uma repreensão. Pelo que já escrevi até agora, acho que não está difícil pra mim, nem pra você que lê, imaginar essas questões no tempo presente, na Igreja de hoje. Será que você já enfrentou a situação difícil de ter de alertar um líder cristão sobre um erro que ele estaria cometendo e ser rejeitado, mesmo sendo evidente e claro o referido erro? Será que escrevo agora para algum irmão ou irmã que já foi rejeitada por todo um grupo de pessoas que comungam da mesma fé por causa dessa postura? Em qualquer caso continue lendo.

Parágrafo quinto:

"O profeta aponta assim à ordenança que tem estado esquecida: 'Levantarás os fundamentos de muitas gerações, e serás chamado reparador de brechas, e restaurador de veredas para que o país se torne habitável'."

Acho, no mínimo, intrigante a forma como muitos cristãos hoje facilmente trocam o que está escrito pelo "eu acho...", "eu penso...". Incluo também membros da alta administração da Igreja nessa observação. Isso se vê mais em questões administrativas da Igreja, como nas eleições dos oficiais, nas questões de disciplina eclesiástica, etc., "justamente" porque são situações que põem à prova o caráter, a índole do cristão e sua fidelidade à verdade, quando, por exemplo, um grupo de cristãos "bonzinhos" (às vezes, até com anuência do pastor) preferem passar por cima da doutrina e de normas administrativas para "poupar" determinado irmão da "punição". Esta é uma boa situação para analisarmos com calma, pois vamos destruir vários paradigmas aqui. Perceba que, no exemplo citado anteriormente, coloquei algumas palavras entre aspas. É nelas que vamos nos deter um pouco.

Primeiramente devemos saber que existe uma diferença básica entre o cristão BONZINHO e o cristão BOM. O bonzinho é aquele que diz amém pra tudo, em nome da boa convivência. É um apaziguador. Pode até ser fervoroso (na aparência), mas não adora a Deus em espírito e em VERDADE, nem o poderia, pois a lei de Deus não está escrita em seu coração e, por isso também, não entende o que vem a ser negar a eficácia da piedade, de acordo com II Timóteo 3:5; demonstra apenas uma aparência de misericórdia, segundo valores puramente humanos, construídos em cima de uma relação mística com Jesus e Seus ensinamentos e em cima de paradigmas inválidos, herdados de uma sociedade relativista, ou seja, onde cada um tem sua verdade, baseada na "achologia". Onde fica o "assim diz o Senhor"?

O cristão bom é totalmente o oposto do bonzinho. Ele sabe o que é amar de verdade, pois experimenta o amor de Deus em sua vida, no qual misericórdia e justiça são inseparáveis. Ele entende que Deus o perdoa de todos os pecados, mas que antes executou Sua justiça em Cristo, o qual foi condenado e morto em cumprimento à toda a lei, honrando e engrandecendo a lei, tal é a importância da mesma. O cristão bom não diz amém pra tudo, pois não está do lado do irmão "A", "B" ou "C", mas, sim, do lado da verdade. Entende, pelos olhos da fé, que deixar o pecado de lado em favor do pecador, não é misericórdia, é rebaixar a norma, é "calcar a pés os preceitos divinos", é colocar em risco o discernimento, o crescimento, o discipulado de outros irmãos.

O cristão bom não é um apaziguador, que apenas ameniza o conflito, mas sem ter o compromisso com a exaltação da verdade e repreensão do erro. Ao invés disso, ele é um pacificador, pois semeia a paz, porém não a paz como os homens conhecem (que é somente a ausência de conflito), e sim, a paz de Deus, a verdadeira paz de espírito; ele ama o pecador, mas, assim como Deus, repudia o pecado e, por isso, chama o pecado pelo nome, num gesto de disciplina, que também é amor. Ele entende que disciplina, ao contrário do que o mundo e a própria Igreja estão ensinando hoje, é uma palavra positiva, e não negativa, e expressa amor.

"Eu repreendo e castigo a todos quantos amo; sê pois zeloso e arrepende-te." (Ap 3:19)

É por isso que os filhos de Deus, conforme o texto supra, são chamados de reparadores de brechas e restauradores de veredas. Estão no mundo para dar o sentido correto aquilo que foi distorcido, para serem luz.

Temos algo curioso para analisar. O povo adventista do sétimo dia já foi conhecido como o povo da Bíblia. Mas o que é a Bíblia? Trata-se de um livro majoritariamente composto de vários tipos de normas para a vida cristã. Para os que amam a Deus, é motivo de alegria, de esperança, de transformação, de paz. Para o mundo, motivo de ódio, pois é um espelho que revela a podridão do seu caráter. E nós, chamados povo de Deus, insistimos com o mundo que essas normas devem ser guardadas a todo custo, pela fé, por mais loucas que pareçam. E o mundo nos chama de fanáticos, de perfeccionistas. Vimos aí duas classes de pessoas bem distintas.

Por outro lado, numa esfera menor, dentro da Igreja, temos duas classes bem distintas também: os cristãos bonzinhos e os cristãos bons. Lembra? Uns, em nome de um amor equivocado, "cuidam" dos irmãos, os "protegendo", "poupando" de certas normas de conduta cristã, as quais julgam ser severas demais, ou mal interpretadas e, fazendo assim, colocam-se num altar como sendo mais misericordiosos que o próprio Deus. Todavia, os outros, os cristãos bons, são chamados de fanáticos, ríspidos, severos, perfeccionistas, por falarem "demais" sobre normais e leis. Você vê alguma semelhança entre as duas classes de pessoas mencionadas no parágrafo anterior e as duas últimas classes que vimos agora? Tenho certeza que sim.

Parágrafo décimo quarto:

"A razão pela qual Ele não escolhe mais vezes homens de saber e de posição para dirigir os movimentos de Reforma, é que estes confiam em seus credos e sistemas teológicos, não sentindo que necessitam ser ensinados por Deus."

Na verdade, o que observo é que estes homens "de saber" crêem sim estarem sendo ensinados por Deus. O que eles não crêem é que homens simples possam estar sendo guiados por Deus para lhes darem repreensões severas sobre coisas tão óbvias, porque sendo óbvias teriam percebido por si sós o próprio engano". Parece que humildade e obediência realmente acabam sendo mais importantes que o saber. Daí podemos inferir mais uma vez, a importância da fé, que é o crer incondicional no Criador, mesmo que o objeto dessa crença pareça loucura. Lembro-me que as coisas de Deus parecem loucura para os que não se esvaziam de sua própria justiça e não se deixam guiar pelo Espírito Santo.

Querido leitor, poderia me demorar ainda muito mais nesse assunto, mas não quero tornar essa leitura ainda mais cansativa para você. Mas, em tempo e em poucas palavras, quero dizer-lhe que esta postagem acabou sendo longa, porém necessária, por causa da incrível necessidade que muitas pessoas têm de se falar de forma bem clara, sendo até repetitivo, quanto a assuntos que deveriam ser tão básicos. Mas, infelizmente para os que se perdem e felizmente para os que buscam a salvação todos os dias, o discernimento sobre esse assunto se dá espiritualmente e depende do coração (mente) de quem lê: se bom, produz arrependimento, se mau, produz repúdia.

Quero frisar também, antes de terminar, que me detive nos exemplos de disciplina eclesiástica unicamente por ser a situação que mais presenciei na Igreja para retratar o tema exposto nesta postagem. Mas existem outras situações várias. Procurei focar também na necessidade de se falar a verdade e da aplicação da misericórdia juntamente com a justiça, que constituem amor, mas não foquei na maneira como esses princípios devem ser aplicados. Talvez isso possa ser tema de uma outra postagem. Tudo deve ser feito com amor (I Cor 13), lembrando que o amor é uma liga inseparável e igualitária entre misericórdia e justiça.

Também não foi meu objetivo aqui ofender a Igreja ou pregar contra esta instituição divina. Na verdade, é profética a decadência moral da Igreja nos últimos dias (leia-se: hoje) e se o que falei e a forma como falei são errados, apenas fiz o que os profetas, apóstolos e o próprio Mestre fizeram: começar a justiça dentro do arraial do povo de Deus. E também há um certo corporativismo por parte dos líderes investidos da Igreja em defender a instituição, mesmo quando errada, e isso em detrimento da fé dos irmãos. A estes gostaria de lembrar que a Igreja dos últimas dias (leia-se: hoje) não é uma instituição, mas um povo eleito, fiel à verdade, não preso à denominações humanas corruptíveis.

No tema de hoje, falei sobre algo aparentemente não grandioso. Eis aí o engano! Talvez as maiores mentiras (entenda-se: paradigmas falsos) de Satanás residam nas "pequenas" coisas que tratamos aqui, na vida prática dos cristãos dentro de suas igrejinhas.

Falo porque o Espírito me comove à falar. Ai de mim se não falar. Que Deus seja louvado. Amém!

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